segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A REPÚBLICA DOS GENERAIS


A bem pouco tempo atrás o Brasil viveu uma fase política muito difícil. Para falar a verdade sempre viveu, mas que desencadeou revoltas mais recentes, foi o Golpe militar de 64. Neste período os militares passaram a controlar o poder, que para garantir a segurança, violentaram os direitos políticos e civis e amordaçaram a oposição, pois desde 1955 os movimentos populares estavam em ascensão e passaram a receber grande expressão política a partir de 61. Esse panorama foi avaliado pelas grandes potências e produziu a teoria de Segurança do Bloco Capitalista com os desdobramentos da ideologia de Segurança Nacional. Neste contexto houve outros desdobramentos emergenciais, haja vista a situação social em convulsão, nos fins dos anos 50 e início dos anos 60, no Brasil, Cuba, China dentre outros países.
Entre os primeiros fatores que deram expressão e significado político aos movimentos populares, destacam-se os seguintes: a política de estímulos à organização de sindicatos no meio rural, que elevou seu número de 300, em 1963, para 1500 em março de 1964; o reconhecimento da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG); a regulamentação do Estatuto do Trabalhador Rural; a formação das Ligas Camponesas; a ação da ala progressista da Igreja formada pelos grupos Juventude Estudantil Católica, Universitária Católica e operária Católica (JEC< JUC e JOC, respectivamente); a ação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Essa mobilização e representatividade fizeram com que se organizassem instituições de direita, a fim de conter o avanço desses segmentos mais populares. Até com caráter paramilitar surgiram os grupos: a Frente Patriótica Civil-Militar, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES); a Sociedade Brasileira para Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e o Instituto Brasileiro de Ação democrática (IBAD). Estes foram responsáveis por campanhas de mobilização que envolveu elites e amplos setores da classe média na intenção de resgatar o sentimento público contra os esquerdistas.
A ação dos esquerdistas, ou de segmentos mais progressistas, fundamentava-se na crítica à proposta nacionalista e de desenvolvimento, do pós-45, e na entrada do Brasil na política de expansão do capitalismo internacional.
Mas para conseguir isto, necessitava-se desestabilizar o Governo Goulart. E foram vários os acontecimentos que colaboraram e criaram um clima propício, como o CGT e as Ligas Camponesas, as greves e conflitos entre cúpula militar e sindicatos, perda de controle militar por Goulart e a conspiração que passou a envolver um maior número de oficiais dentro das próprias Forças Armadas. Além de notícias sobre preparativos de guerrilhas, manifestos e proclamações contra o perigo comunista congregando fazendeiros e outra entidades.
Os principais líderes da esquerda , sobre tudo os comunistas, confiavam no espírito democrático e na vocação legalista das Forças Armadas.
A direita formava organizações paramilitares, dentro de uma estratégia de guerra civil, a fim de fomentar arruaças dissolver comícios, promover sabotagens e até desencadear guerrilhas. O que realmente é concreto é que, em vários pontos do País, havia campos de treinamento para guerrilhas montadas, clandestinamente, pelos militares que conspiravam contra o governo de Goulart.
Início de 64, o governo estava em crise e não contava nem com o apoio da burguesia. Em 13 de março de 64 realizou-se um grande comício em frente a Central do Brasil (RJ), onde ocorreu o lançamento do programa “Reformas de Base” que propôs a nacionalização das refinarias particulares de petróleo e a desapropriação de propriedades à margem de ferrovias e rodovias. Nesse evento foram registrados mais de 300 mil trabalhadores, estudantes e grupos de esquerda. Estes fatores aliados à marcha da Família com Deus e pela Liberdade, da qual participaram cerca de 400 mil pessoas em São Paulo, organizada pelos setores da Igreja e do empresariado, criaram condições para o Golpe de 1964.
O Golpe de 31 de março de 1964 derrubou o governo de Goulart. Apoiados pelos industriais, banqueiros, fazendeiros, grandes comerciantes e por uma considerável parcela da classe média, os militares assumiram o poder.
Também contribuíram para esse Golpe muitos civis, principalmente governadores de Estados importantes, um grande partido político União Democrática Nacional (UDN) e diversas autoridades locais. No exército, este Golpe conseguiu concentrar numerosos elementos que não estavam integrados num esquema de segurança nacionalista. Em suma, todos os setores moderados da Nação se mobilizaram em torno de duas causas: a luta contra o comunismo, que se supunha estar pronto para tomar o poder, e uma renovação da economia, segundo as receitas ortodoxas do capitalismo, através da sua integração no sistema econômico americano. Constata-se, pois, que o projeto udenista se materializou num curto espaço de tempo.
Derrubando o governo de João Goulart, os militares iniciaram a destruição do estado de direito. A violência contra as leis não parou aí. O Marechal Castello Branco assumiu a presidência e começou a editar, sem ouvir o Congresso, uma série de atos institucionais. Normalmente, numa democracia, as medidas do governo só se tornam leis depois da aprovação do Congresso. Os atos institucionais transformaram-se em leis apenas com a assinatura do presidente. Com isso a harmonia dos poderes virou uma ficção, e o Executivo ganhou superpoderes.
Esse abuso de poder acabou fazendo estragos na oposição, mas não a destruiu. Tanto que nas eleições estaduais de 65 ela conseguiu eleger os governadores de dois Estados importantes: Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os oficiais da linha-dura se irritaram com essa vitória da oposição. Pressionaram o presidente para que ele tomasse medidas contra o crescimento oposicionista. Castello Branco, sensível a essas pressões, editou o AI-2, que extinguiu os partidos políticos, criou o bipartidarismo, estabeleceu eleições indiretas para a presidência e atribuiu à Justiça Militar o poder de julgar civis com base na Lei de Segurança Nacional.
Com a introdução forçada do bipartidarismo, foram criados dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), cuja função era apoiar as medidas governamentais, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o partido da chamada oposição tolerada ou consentida. Com a abertura dos cofres públicos aos políticos da ARENA eles conseguiram maior parte nas cadeiras do Congresso e apoiavam tudo que o Governo mandava.
Com a maior parte das lideranças políticas e sindicais cassadas, presas ou exiladas, a bandeira oposicionista passou para as mãos dos estudantes. Em 1964, os militares fecharam a UNE e as entidades estudantis equivalentes em cada estado (UEEs). Mesmo assim, com muita freqüência, as passeatas estudantis enchiam as ruas das principais cidades brasileiras.
Em virtude do fechamento político, as produções artísticas em geral e várias publicações passaram a ter um engajamento político mais intenso. Canções de protesto, filmes, peças de teatro cuja temática era essencialmente política passaram a ocupar um espaço de contestação não institucional, uma vez que os canais normais de oposição ao regime eram controlados pelo militares, como o Congresso, por exemplo. Surgiram nomes como Chico Buarque de Hollanda, Nara leão, Geraldo Vandré, Maria Bethânia, entre outros. Já nos meios de comunicação ( jornais, rádio e televisão), as críticas à ditadura militar eram menos freqüentes.
Em 3 de outubro de 1966 foram realizadas as eleições indiretas, e o candidato da linha-dura, o general Costa e Silva, foi eleito presidente. Assumindo em 15 de março de 67 o poder com promessa de retomar o caminho da democracia e do desenvolvimento.
Nesses governos militares a economia sempre apresentou desenvolvimento, desenvolvimento esse, que aumentou mais ainda as diferenças entre ricos e pobres. Para desenvolver o país os ministros da área econômica facilitaram o crédito e reduziram as tarifas estatais para as empresas, agradando a burguesia. A classe operária, porém, não tinha motivos para participar dessa euforia. O arrocho salarial que pesava sobre ela permaneceu. O governo continuou intervindo sobre os seus sindicatos e reprimindo suas manifestações.
Após um derrame e impossibilitado de governar, os cargos de presidente e vice- presidente ficaram a disposição, e eleito como presidente com a maioria dos votos foi o General Médici.
Sob a égide do AI-5, a sociedade brasileira ficou sitiada, vigiada, tutelada e torturada pelo Estado, com o fechamento dos canais tradicionais de representação e participação política (partidos, Congresso, sindicatos, editoras, etc...) produzindo um silêncio substancioso. A tática do medo imprimida aos cidadãos através da repressão, desenvolvida com a formação de grupos paramilitares e clandestinos, instaurou-se a paralisia política na sociedade.
Quanto mais o governo militar censurava e reprimia, mais se fortalecia nas organizações políticas de esquerda, a idéias de que era impossível mudar o poder pelo voto, ou seja, pela via institucional e dentro da lei. Com o Congresso submisso e a imprensa censurada, muitos acreditavam que só as lutas armadas poderiam salvar o Brasil.
É curioso notar que o governo do general Médici, exatamente o período em que os direitos humanos foram mais violentados, foi o mais popular do ciclo de governos militares. Segundo estatísticas econômicas, o Brasil era o país que mais crescia no mundo. Todas as atenções voltavam-se para nós. Afirmava-se que aqui estava ocorrendo um milagre, o milagre econômico brasileiro.
A base desse milagre foi uma gigantesca expansão do setor industrial. Desde 1967, o governo já vinha tomando inúmeras medidas para promover o desenvolvimento econômico, como isenções fiscais, vendas de títulos para financiamento de obras etc... .
A principal vítima do milagre econômico foi a classe operária. Durante o governo Médici, o arrocho salarial foi mantido. O governo manipulava os índices oficiais de inflação de modo que os aumentos salariais sempre ficavam bem abaixo da inflação real. Mas o milagre econômico trouxe graves problemas para a economia brasileira. O financiamento das grandes obras foi feito através de um crescente endividamento externo e interno. Em 1974, já estava claro que o Brasil necessitava de outro milagre para sair da crise provocada pelo primeiro.
Florianópolis, capital de Santa Catarina, nunca teve expressão política à nível nacional. Mas há um acontecimento que indispensável o comentário, A Novembrada.
A Novembrada ocorreu no governo de Figueiredo em 79, quando o Presidente veio visitar nossa capital. O governador do estado era o atual senador Jorge Bornhausen, e tudo estava preparado para ser uma grande festa militar.
Após descer no aeroporto, Figueiredo foi em direção à Praça XV de Novembro. Contando mais ou menos, com uma receptividade de entre 5 mil e 8 mil pessoas. Muitas crianças portavam bandeirinhas com dizeres do tipo “SC saúda João, presidente da Conciliação”, “João, o soldado forte para grandes batalhas”, “Juventude Catarinense saúda João”.
Junto à isso vários jovens universitários chegam à praça portando faixas: “Chega de sofrer, o povo quer comer”, “Abaixo a exploração”, “Melhores salários para o trabalhador”. O povo começa a se juntar e o grupo começa a crescer. A polícia tenta conter mas já eram muitos.
As vaias e os assobios tomavam conta, não se conseguia ouvir nem o que era anunciado, pois o som dos auto falantes desaparecia. No momento em que João Figueiredo se aproxima da sacada do palácio para falar, o povo começa a gritar “Vai embora”, até que alguém joga uma pedra, depois outra voa sobre a sacada e uma terceira cai no bolso de um político. O povo realmente se rebela e começa a gritar “Chega de João, nós queremos é feijão”, e para os soldados que faziam a segurança, “Vem pro nosso lado, soldado é explorado”.
Desse acontecimento 5 estudantes foram presos , 300 pessoas se reuniram num ato público e organizaram um abaixo assinado com 20 mil assinaturas para que os estudantes fossem libertados.
O povo já não agüentava mais trabalhar de 10 à 12 horas por dia, e receber um salário que não pagava 4 horas de trabalho, enquanto só os patrões lucravam e eles passavam fome. Este povo protestou, para surpresa deles, contra esta exploração, contra este modelo de sociedade, montado para o privilégio de uns poucos e a miséria de muitos, trabalhadores especialmente.
Outro acontecimento também contra a repressão foi a barricada da modernidade. Modernidade é uma metáfora em que há duas maneiras de efetivar a crítica dos fundamentos do presente: pela produção artística, ou pela contestação dos hábitos e costumes, como propôs ruidosamente o famoso mês de maio de 1968, na frança. No Brasil, pode-se comparar a esse acontecimento, o abril de 1984, quando milhares de pessoas organizaram panelaços exigindo eleições diretas. Os jovens rebeldes do maio de 1968 heróicos, hoje cinqüentões, ensinaram ao mundo ideais iluministas ao recusarem, com ironia, a ordem imposta por uma contra-modernidade, da qual eram emblemáticas as relações arcaicas na França de De Gaule, bem como no Brasil de Figueiredo.
Dessa barricada da modernidade, que arrancou da apatia e do conformismo o presente, nas respectivas temporalidades, beneficiaram-se os que vieram depois. Descanse em paz, portanto, John Lennon, o sonho não acabou; abdicou-se do messianismo! Acorde, Belchior, é falso recitar que “ainda somos iguais aos nossos pais”; mudamos.
Os anos 80 foram marcantes para a Europa. O muro de Berlim já estava com seus alicerces abalados, e tudo indicava que o capitalismo neoliberal estava prestes a vencer as últimas batalhas e a própria Guerra Fria.
Como houve uma opção de deixar os conflitos político-ideológicos para depois, a proposta assumida é aquela que defende uma economia de mercado – tal como os liberais propõe – temperada por um princípio de solidariedade, fundamental na visão social-democrata.
No Brasil, a terceirização é proposta como forma de livrar-se de problemas estruturais. Assim, ao terceirizar tem se buscado como política não perder o poder e a relocação do mesmo em outra instância, sob o controle daquele que sempre o teve. Portanto, a terceirização no Brasil não tem sido à busca de suprimento para ações que o exigem, como acontece nos países industrializados. Deste modo, descentralizar acaba por associar-se à democratização. Isto porque entende-se que quanto mais democrático o Estado, mais ele é descentralizado.
Outra forma de descentralização é do Estado é livrar-se das pressões das comunidades, passando todas as responsabilidades ao município.
Assim, a meta de combate à pobreza passa, de um lado, pela melhoria na distribuição de renda, através da recuperação dos salários e, de outro, pela concentração de esforços e recursos em programas sociais para reduzir os problemas de saúde, alimentação e habitação dos brasileiros mais pobres. O governo parte da tese em que cabe ao privado o papel de destaque na retomada do crescimento.
Essas prioridades exigem reformas profundas na organização e nos métodos do setor público a fim de redefinir a participação do Estado nessa nova etapa de desenvolvimento. A reforma do setor público é , assim, meta estratégica deste plano e, ao mesmo tempo, condição de realização dos demais objetivos de retomada do crescimento e combate à pobreza.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DO SÉCULO 20

PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DO SÉCULO 20

1905 - Einstein anuncia a Teoria da Relatividade
1906 - Santos Dumont voa com o 14 Bis
1914 - Começa a Primeira Guerra Mundial, na Europa
1917 - Começa a Revolução Russa
1918 - Fim da Primeira Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e seus aliados
1919 - Assinatura do Tratado de Versalhes. Mussolini chega ao poder na Itália
1922 - Os russos começam a difundir as idéias socialistas pelo mundo
1928 - Stalin assume o poder na União Soviética
1929 - Quebra da Bolsa de Nova York
1930 - Revolução de 30 no Brasil (Vargas assume o poder como chefe revolucionário)
1933 - Hitler torna-se o primeiro-ministro alemão
1934 - Getúlio Vargas se torna presidente constitucional
1936 - Roosevelt é reeleito presidente dos EUA. Japoneses ocupam Pequim, Xangai e Nanquim
1937 - Golpe de Estado por parte de Getúlio Vargas, conhecido como período do Estado Novo
1939 - Hitler invade a Polônia: começa a Segunda Guerra Mundial
1940 - Paris é ocupada pelos alemães
1941 - Ataque japonês a Pearl Harbour precipita a entrada dos EUA na guerra
1942 - Brasil entra definitivamente na Segunda Guerra
1944 - Desembarque aliado na Normandia (Dia D)
1945 - Fim da guerra na Europa, em 8 de maio. EUA explodem bombas atômicas no Japão. Capitulação do Japão, no dia 15 de agosto
1946 - EUA lançam o Plano Marshall
1948 - Criação do Estado de Israel. China torna-se comunista
1950 - Vargas é eleito presidente do Brasil
1954 - Vargas comete suicídio
1955 - Começa a Guerra do Vietnã
1956 - Húngaros se levantam contra a ocupação russa e quebram estátuas de Stalin
1959 - Fidel Castro lidera a Revolução Cubana
1960 - Juscelino Kubitschek inaugura Brasília
1963 - Kennedy é assassinado nos EUA
1966 - Começa a Revolução Cultural na China
1968 - Eclodem protestos estudantis em vários países
1969 - Homem chega à Lua
1973 - Allende é derrubado por Pinochet no Chile
1974 - Richard Nixon renuncia à presidência dos EUA
1983 - Internet é criada
1989 - Queda do muro de Berlim
1991 - Fim da União Soviética
1994 - Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente do Brasil
1999 - Cientistas escoceses produzem clone de uma ovelha

Memórias de horror do nazismo

História
Memórias de horror do nazismo
Helga Szmuk
VIVIANE BEVILACQUA




Os olhos azuis escuros de Helga Szmuk acompanham o movimento do mar na Praia dos Ingleses, em Florianópolis. A água salgada, a areia fina e a brisa morna lhe trazem muitas lembranças. Algumas boas, como as longas viagens de navio com o pai. Outras terríveis, como a fuga da Áustria, durante a ocupação nazista. Ela era apenas uma garota de 16 anos quando precisou trocar seu país por Israel, para não morrer em algum campo de concentração. Sozinha, longe da família e sem entender a língua, Helga foi obrigada a recomeçar sua vida. Nessa época, esta filha de judeus - uma "socialite" de Viena e um húngaro capitão de navio mercante - nem imaginava quantas vezes ainda teria de fugir e mudar de país, até chegar ao Brasil, na década de 1960. Aqui, encontrou sossego e tranqüilidade para criar seus filhos e dedicar-se à Astronomia, sua grande paixão. - Ainda bem que a gente não pode prever o futuro. Se quando jovem eu soubesse tudo o que sofreria na minha vida, com certeza teria me suicidado. Me faltaria coragem para enfrentar tudo aquilo - diz Helga, com seu forte sotaque alemão. Se há algo, porém, que nunca faltou a Helga foi coragem. Houve um tempo em que lhe faltou comida, e seus filhos pequenos tiveram que enfrentar filas, madrugada adentro, para garantir um pedaço de pão. Faltou-lhe também o marido, que trabalhava em Cingapura quando seu filho nasceu. Ficou sem dinheiro, e precisou morar numa pensão freqüentada por prostitutas. Mas coragem Helga sempre teve de sobra. Hoje, aos 84 anos, ela continua firme, forte e independente, qualidades que forjaram seu caráter desde menina. Em seu apartamento, conserva um pequeno tesouro: as fotos e documentos antigos, entre os quais o passaporte para sair da Áustria, durante a ocupação nazista. Na capa, uma letra "jota" grande, em vermelho, indicava tratar-se de uma judia, e que a viagem seria somente de ida. Suas histórias estão registradas na obra Da minha sacada, publicada apenas na Internet. Seus amigos e filhos há muito tempo insistiam para que ela escrevesse suas memórias. Resolveu atendê-los. A infância na Europa, entre o luxo de Viena e a vida no mar Viena, Áustria, 1922, início da Grande Depressão que abalou quase todo o mundo. Helga nasceu sob o regime socialista. A mãe era de uma família tradicional de Viena, amiga pessoal de Sigmund Freud e muitas outras personalidades da arte, ciência e música. Seu avô, no início da vida estudantil, sentava-se no banco da escola (pública) ao lado de Freud. O pai, um capitão da Marinha, era bem diferente: detestava Viena, e só sentia-se feliz no mar. Helga vivia, então, entre os dois mundos. Falava inglês com o pai, e alemão com a mãe. Estudou balé na Ópera de Viena, muito mais por imposição da mãe do que por prazer. O que ela gostava mesmo, desde bem pequena, era viajar de navio com o pai. - Foi nesse tempo que eu fui mais feliz - conta. Nas noites escuras, em alto- mar, ele mostrava as estrelas à pequena Helga, que aprendeu a usar o sextante (instrumento de navegação) antes mesmo de saber ler e escrever. Mas sempre havia um professor a bordo. Na volta das viagens, prestava exames na escola. - Minha vida era cheia de contrastes, mas muito divertida - diz. Os judeus na Áustria, naquela época, nem sabiam que eram judeus, comenta Helga, lembrando que eles sempre foram grandes patriotas, lutaram na Primeira Guerra, perderam seus filhos, esposos e esposas defendendo a Áustria. Ninguém perguntava que religião ou credo o seu vizinho ou amigo tinha. Os judeus eram altos funcionários no governo, cientistas, músicos e artistas, sem qualquer tipo de discriminação. Nazistas ocupam a Áustria e começa perseguição aos judeus No dia 13 de março de 1938 a vida de Helga começa a mudar. Uma semana mais tarde haveria eleições na Áustria, e era consenso que os social-democratas ganhariam outra vez. O Partido Nazista estava proibido, e seus membros viviam na clandestinidade. A família acordou no dia 13 de março com uma enorme bandeira da suástica nazista tocando o terraço. O pai, o capitão Roth, ligou o rádio e ouviu o que parecia impossível: as tropas alemãs atravessaram a fronteira e ocupavam a Áustria. Uma cena ficou gravada na lembrança de Helga: de uma hora para a outra o povo vienense, alegre, pacifista, amante das artes virou fera. Hitler falava em praça pública e as mulheres jogavam-se aos seus pés gritando 'Heil, Hitler'. Uma berrou: eu quero um filho do Fuehrer! O pai de Helga quis entrar na sua fábrica (ele havia parado de navegar para ficar mais perto da família), mas foi barrado pelo contador que trabalhava para ele há 20 anos e não era judeu. Virou o dono da fábrica. Helga foi barrada na escola. As eleições que foram marcadas nunca aconteceram, mas os judeus foram obrigados de lavar as ruas e calçadas para remover a propaganda eleitoral. - Foi uma visão horrível. Senhores e senhoras idosos ajoelhados na calçada para limpar o chão. Mas a elite de Viena, os artistas, colocaram a Estrela de Davi no peito e se juntaram aos judeus para também lavar as calçadas - comenta Helga. Pai de Helga salva milhares de judeus com seu navio Somente judeus com parentes ricos no exterior ou famosos, como Freud e Einstein, não tiveram problemas de achar lugar para onde emigrar. Um dia, tocaram a campainha da casa de Helga - o que deixava todos em estado de alerta. Poderia ser a polícia. Iriam levá-los para um campo de concentração? Até hoje Helga tem trauma da campainha. Era o filho do dono do prédio onde eles moravam, que foi avisar para esconder o seu irmão, Paul, na época com 21 anos e simpatizante da esquerda. No dia seguinte haveria uma revista no prédio para ver se não havia judeus ou comunistas escondidos. Paul precisava sair do país o quanto antes, mas para onde ir? - Todos tinham muita pena dos judeus, mas ninguém abria as portas para alguém sem dinheiro - lembra Helga. Então, seu pai teve uma grande idéia, que acabou salvando a vida de milhares de judeus. O capitão Roth (pai de Helga) fez uma proposta ao governo de Israel - que nessa época era a Palestina e estava sob domínio inglês. Cada ano uma pequena quantidade de judeus podia emigrar para Israel. Ele propôs levar os judeus que fugiam do Nazismo através do Rio Danúbio, de barco, até o Mar Negro e depois para Israel (tudo ilegalmente). Em troca, queria um visto para o filho e a filha. A proposta foi aceita. Helga recebeu um visto para Israel e uma bolsa de estudos por dois anos num dos melhores colégios internos para meninas. Foi de trem até Trieste (cidade italiana que pertencia ao Império Austro-Húngaro) e de lá, embarcou com outras 20 crianças para Israel, onde iria morar. Era abril de 1939. Em Israel, o encontro com o futuro marido Era o dia da Páscoa dos judeus quando Helga e mais 20 crianças chegaram a Israel, depois de uma viagem de seis dias, trazendo meia dúzia de peças de roupas e o passaporte só de saída da Áustria. Tinha apenas 16 anos, estava num país estranho, não falava a língua e a única pessoa que conhecia era seu irmão, Paul, que havia emigrado um pouco antes. Ele a esperava no porto, mas ficaram juntos apenas um dia. Todas as crianças e jovens foram levadas para a escola em Talpiot, entre Jerusalém e Belém. O pai de Helga foi visitá-la e contou-lhe sua grande aventura: ele havia saído da Áustria de navio, levando ilegalmente vários passageiros judeus para Israel. Tinha medo de que, se descoberto pelas autoridades inglesas, todos poderiam ser mandados de volta. Então, destruiu todos os documentos dos passageiros, para que ninguém soubesse seus nomes originais. Jogou no mar. Depois, o capitão Roth deu aulas de remo para os jovens. Calculou que na calada da noite, a umas 10 milhas da costa, poderia colocar os passageiros nos botes salva-vidas. Também os ensinou a orientarem-se pelas estrelas e seguir até um local previamente combinado com as autoridades israelenses. Mas o sonho durou pouco: salvas de advertência de um destróier inglês deu a eles ordem de parar. Os ingleses subiram a bordo, com uma lista de todos os passageiros, com nome e origem. Os judeus não foram mandados de volta porque os israelenses assumiram o compromisso de deixá-los entrar no país. Mesmo assim, foram considerados ilegais até a criação do Estado de Israel. Os passageiros foram levados até um Kibutz e receberam roupas e comida. Eclode a Segunda Guerra e Helga começa a trabalhar A Segunda Guerra começou e toda a comunicação com a Europa foi cortada. Hitler invadiu a Polônia e finalmente os ingleses declararam guerra aos alemães. Nessa época, muitos navios "ilegais" levavam judeus para Israel, pois era a última chance de escapar. O pai de Helga salvou muita gente com seu navio. Em pouco tempo começou a faltar medicamentos em Israel, uma vez que as empresas do setor, como a Bayer e a Hoechst, eram alemãs e os seus produtos não entravam mais no país. Uma firma israelense (Hillel) começou a copiá-los. Helga conseguiu um emprego como propagandista para explicar para os médicos o que significavam os novos nomes dos remédios. Ela falava diversas línguas e assim podia explicar para os médicos árabes em inglês ou alemão. Foi num baile em Haifa (norte de Israel) que Helga conheceu um jovem médico húngaro, Imre, que depois se tornaria seu marido. Ele foi transferido para Haifa, na refinaria, como médico. - Decidimos nos casar, porque havia uma grande possibilidade de Imre ser mandado para o Extremo Oriente. Nosso pensamento e de milhares de outros jovens era: vamos nos casar antes da separação, que pode ser para sempre - relembra. A chegada do primeiro filho: mais um momento difícil Helga Szmuk ficou grávida de Peter, mas o bebê nasceu quando Imre servia, como médico militar, no 14º Hospital Geral, em Cingapura. Um dia, um juiz bateu à porta de Helga, avisando-lhe que precisava abandonar o apartamento em 24 horas, porque o prédio era de propriedade alemã. Peter foi morar em uma pensão para crianças e Helga num hotel barato, ocupado quase que exclusivamente por prostitutas. No dia 9 de maio de 1945 a Alemanha se rendeu. Era o fim da guerra, mas não para a família de Helga. Seu marido, Imre, estava lutando contra os japoneses e ainda havia muita guerra pela frente. Finalmente, a grande notícia. Imre escreveu que estava à caminho de casa. Helga e Peter esperaram por este momento durante quatro anos e meio. Peter vestiu a sua roupa nova especialmente guardada para o dia em que conheceria o pai. O grande problema foi que Peter e Imre não tinham uma língua comum. Peter falava alemão com a mãe e os avós, e o idioma iwrit no jardim de infância. Imre falava húngaro (mal) e agora há muitos anos falava só inglês.

domingo, 9 de março de 2008

Vídeo de Brusque - 1926

Para quem se interessa por História e quer conhecer mais sobre o cotidiano dos brusquenses na década de 1920, entre no link abaixo.



http://br.youtube.com/watch?v=Z7Ru5PyP7k0

sábado, 1 de março de 2008

Fotos de Brusque Antiga...

1960

Festa - 1960



Renaux 11 X Avaí 1




1934 - Possivelmente um desfile integralista





Enchente 1930



Foto da pracinha




Ponte Antiga


Rua Lauro Muller


Helicóptero no Bairro Jardim Maluche



Centro - Rua Rui Barbosa


Antiga casa do Barão Maximiliano Von Schneebur - Atual praça do Platz



Início do século XX


Centro


Centro - No prédio ao lado hoje funciona as Casas Bahia



Casa Alvina Renaux



Igreja Evangélica e ao fundo a Católica



Hospício



Azambuja


Brusque Antiga

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

REVOLTA DOS MALÊS...

Durante as três primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como dos "malê", pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe. Sendo a maioria deles composta por "negros de ganho", tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.

Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda, atacar o quartel que controlava a cidade mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.

No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

CULTURA DO IMIGRANTE ITALIANO

No caso dos italianos deve-se prestar atenção na situação em que se encontravam na Itália e os motivos de sua imigração.
A Itália, antes do século XIX, passava por uma crise que afetava principalmente os camponeses. Numa Itália de frio rigoroso e de um sistema político, social e econômico com traços feudais em decomposição, a fome tornava-se problema grave em algumas regiões.
O trabalho árduo ao sol e a higiene precária colaboravam muitíssimo para dificultar a vida dos camponeses no norte italiano. O uso exclusivo do milho como alimento, quase sempre estragado pela umidade, provocava a pelagra, uma avitaminose decorrente da falta de uma alimentação variada. Além de não receber ajuda do Estado, os camponeses não possuíam terra e enfrentavam terríveis condições climáticas.
A partir de 1875, rumores apontavam ser o Brasil a “terra prometida”, esses fatos são divulgados em jornais da época na Itália. Um lugar mítico de abundância, um lugar prometido, o paraíso na terra e não depois da morte. O mito da “Cocanha” acentuava esses pensamentos. O Brasil seria o lugar onde “uma montanha de queijo ralado se vê sozinha no meio da planície... um rio de leite nasce de uma grota e corre pelo meio do país, suas margens são de ricota...”[1].
Todas essas histórias de fartura colaboraram para que grandes levas de imigrantes começassem a deixar o norte da Itália com destino ao Brasil.
A colonização italiana no médio vale do Itajaí-Mirim é decorrente da política de imigração oficial do Segundo Reinado, posta em prática com maior vigor, após cessarem as questões externas, com término da Guerra do Paraguai. As atenções dos parlamentares brasileiros voltaram-se para o interior do Brasil, preocupando-se com grandes áreas devolutas e como única forma para ocupá-las, a intensificação da política imigratória.
No caso de Brusque e região, os imigrantes que chegavam pelo rio Itajaí-Mirim, se alojavam provisoriamente na Casa do Imigrante, localizada na rua Hercílio Luz. Nesse local, eles tinham alimentação e abrigo gratuitos, e logo após eram encaminhados as sua terras. Eles tiveram de cortar o mato para poder construir as casas, primeiramente feitas de ripa e com telhado de palha.
Os imigrantes plantavam milho, feijão, arroz, batata e aipim. Algumas cartas enviadas a parentes reforçavam o mito da fartura das terras. Essas cartas eram usadas em jornais da época para atrair mais imigrantes ao Brasil.
Pode-se perceber ao analisarmos algumas entrevistas com descendentes de imigrantes italianos, a dificuldade de instalação no local. Como a colonização alemã antecedeu a colonização italiana, as melhores terras para o plantio foram ocupadas pelos alemães. Os italianos ficaram com as áreas mais montanhosas ou seja, impróprias para o plantio de determinados alimentos.
Sem dúvida alguma, como fora citado por um entrevistado, os imigrantes ficaram deslumbrados com a abundância de terras e de madeira. Na Itália (...)“não podiam fazer nada, não podiam nem tirar um pau de lenha para queimar”[2]. Possuir um pedaço de terra para plantar era muito difícil na Itália, e com a crise em que o país se encontrava, os que possuíam terras sentiam a falta de uma ajuda financeira para comprar sementes para plantar. Em uma entrevista feita com o senhor Guilherme Araldi ele comenta as dificuldades que seus antecedentes passavam: “para conseguir um pedaço de terra lá não era fácil. Não era fácil igual aqui.” (...) “Eles diziam [seus avós] que vieram para o Brasil porque aqui eles plantavam um pedacinho de pau, e com as raízes eles faziam o pão”[3].
Os imigrantes falavam o chamado “dialeto italiano”, ou seja, cada região da Itália possuía sua língua que não era oficial da Itália. No Brasil os imigrantes conservaram a tradição por muito tempo, até a proibição do uso das línguas estrangeiras nas colônias de imigrante, este fato ocorreu por volta da eclosão da 2ª guerra mundial.
A paisagem catarinense alterou-se com a presença de casas de madeira, sem varanda, altas com largos porões, onde eram guardadas as carretas. Nos locais onde se produzia vinho, os porões passaram a servir de adega para a conservação de vinho. As casas eram acompanhadas obrigatoriamente de pequenas pastagens, paiol, estábulos, horta, pomar e jardim.
O vestuário manteve-se quase o mesmo da terra de origem. Principalmente no que se refere ao pano de roupa na cabeça das mulheres, o lenço no pescoço dos homens.
Nos dias atuais é difícil ver um descendente de italianos usando roupas com este aspecto. E o que não pode-se esquecer é que o mundo vive em evolução, e nem mesmo os italianos hoje, mantêm essa cultura.
[1] GISBURG, Carlo. O queijo e os vermes. O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo; Companhia das Letras; 1998, p. 165-166.
[2] Entrevista feita com o senhor Rocco Girardi.
[3] Entrevista feita com o senhor Guilherme Araldi.
Trechos do Artigo intitulado "Cultura do Imigrante Italiano" 2003. Thiago Alessandro Spiess.

MISÉRIA NA ALEMANHA...


Meu nome é Rita Bauer, sou casada e tenho dois filhos. Agora vou contar um pouco sobre nossa vida na Alemanha.
Morávamos na Baviera, e residíamos em uma pequena cidade chamada Kirchzell.
Vivíamos em uma pequena casa estilo enxaimel e parte de madeira. A casa tinha somente três cômodos, os quais eram dois quartos e na parte de madeira que ficava fora de casa havia um banheiro.
Não tínhamos jardim, apenas uma horta na qual plantávamos e colhíamos batata e milho.
Cada um deles era plantado em épocas diferentes, por tanto quando era época de batata a comíamos, e tentávamos fazer diversas receitas com o mesmo ingrediente, quando começava a colheita de outra verdura armazenávamos o que sobrava de batata e guardávamos para o inverno.
Nossa vida era quase miserável, mal tínhamos dinheiro para nos alimentarmos e comíamos, todavia a mesma coisa.
O nosso país vivia em miséria, poucos tinham muito e muitos tinham pouco.
O inverno era a pior época do ano! Além de ter pouca comida, passávamos frio, pois o governo não permitia a retira de árvore para nos esquentarmos e nem mesmo para o forno a lenha.
A situação em que vivíamos em nossa região era a mesma em toda a Alemanha, e muitos tinham a esperança de mudar para um mundo melhor onde teríamos comida, não passaríamos frio e menos necessidades.
Era época de inverno, todos estavam com frio e passando fome, meu filho mais novo Algustin estava muito doente e não sabíamos o que fazer.
Para mim era angustiante ver meu filho morrer aos poucos, sem poder fazer nada e tendo cada dia mais certeza de que ele não teria chance de sobreviver.
Cada dia passávamos mais fome e já não sabíamos o que fazer.
Foi então que recebemos a proposta de uma nova vida, uma vida longe da miséria e do frio.
Resolvemos aceitar e dia três de abril 1850 embarcamos em um enorme navio a vapor, que nos levaria até o Brasil.
Não tínhamos outra escolha a não ser partir para um país onde teríamos chance de ter uma vida melhor, se continuássemos a viver em Kirchzell morreríamos de fome e frio.
O vapor partiu e víamos de longe a miséria do lugar onde morávamos, em busca do paraíso.
Nossa vida não era boa, com certeza no Brasil seria melhor.
A caminho de uma nova vida, conhecemos várias pessoas que viviam na mesma situação que a nossa e acabamos ajudando umas às outras durante a viagem. Tudo parecia bom, apenas o navio não estava em bom estado e ficávamos todos separados, os homens ficavam em uma ala, as mulheres e as crianças em outra.
Duas semanas se passaram, e meu filho Algustin já estava muito doente e não conseguia mais andar. Vimos que ele morreria antes de chegarmos ao Brasil, minha angústia aumentava a cada dia. Depois de resistir a mais uma semana, ele morreu. Não sabíamos de que, mas tivemos que jogar seu corpo no mar para sua doença não contagiar outras pessoas. Foi doloroso saber que nunca mais o veria, preferia ter morrido e sofrido em seu lugar. Outras pessoas também morreram e todas as vezes que seus corpos eram jogados ao mar eu lembrava de meu Algustin.
Após um mês, recebemos a notícia de que estávamos chegando ao Brasil, faltavam dois dias para aportar em um pequeno lugar chamado colônia de Ithajai, isso se nenhum imprevisto acontecesse, como uma tempestade em alto mar que faria nosso navio levar mais cinco dias, pois teria que aportar no porto mais próximo.
Nossa viagem foi péssima, ocorreram muitas mortes, a comida armazenada no porão já havia acabado e a bebida estava no fim.
Após dois dias sem comida, e bebendo pouca água chegamos na colônia de Ithajai. Quando desembarcamos do navio, nos decepcionamos, afinal diziam que aqui era o paraíso, mas ainda assim era melhor do que o lugar onde vivíamos.
Só vimos mato e perto do rio havia algumas casas.
Abrigamos-nos na casa da família Schmitz. Eles nos deram comida e abrigo, durante o tempo em que meu marido Johann construía nossa casa.
Após ela ficar pronta, pegamos nossos pertences, que já não eram muitos e fomos para nossa nova casa. Descobrimos que havia uma grande diversidade de verduras que poderíamos plantar para comer.
Quatro anos depois, meu filho Henry casou-se com a menina Hellmtraud e eu e meu marido pegamos o rio e fomos para um outro vilarejo que também pertencia à colônia de Ithajai, um lugar que mais tarde foi chamado de Brusque. Foi ai que a vida começou a melhorar, Johann e eu montamos uma pequena venda, onde vendíamos tecidos e mercadorias que comprávamos no porto de Ithajai.
Em nossas viagens para a Colônia, aproveitávamos para visitar nosso filho Henry, sua esposa e meu neto.
Era difícil se acostumar com a cultura de um novo país, principalmente com a língua que tivemos que aprender pouco a pouco. Nossa venda aumentou, juntamente com o vilarejo em que morávamos. Cada vez mais vinham imigrantes da Alemanha para cá.
Com o crescimento da venda enriquecemos e construímos uma casa maior e com móveis mais confortáveis. Eu poderia dizer que era a casa que eu sonhava, tinha dois andares, um grande jardim e com um enorme chafariz.
Assim posso dizer que conquistei meu próprio paraíso, penso que minha vida aqui é melhor do que a que levava na Alemanha, posso afirmar que aqui eu sou completamente feliz apesar do sofrimento que passei na Alemanha, na vinda para o Brasil e principalmente com a perda de meu filho.
Texto escrito por um grupo de alunos da 7ª Série do Potencial. Turma de 2005. Marcela Mortitz e Mariana Schmitz eram as líderes do grupo.

OS ALEMÃES EM BRUSQUE...


Em 1860, como vimos anteriormente, era fundada a Colônia de Brusque. A maioria dos imigrantes que se estabeleceram nessa região de Santa Catarina vieram da Alemanha (de Baden, Holstein, Oldenburg e Prússia), posteriormente, chegaram colonos italianos e poloneses. A imigração de alemães em grande escala, no século 19, coincidiu com o período de grandes crises que antecederam à unificação da Alemanha sob a hegemonia da Prússia, a partir de 1871. As causas dessa imigração foram tanto políticas quanto econômicas. Além do mais, intensa propaganda era feita pelas Companhias de Colonização de alguns países interessados em atrair imigrantes.As grandes levas de imigrantes alemães entraram no Brasil entre 1850 e o final do século (São Leopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida dessa saga iniciada em 1824, com a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipado de Portugal). Mas foi só em quatro de agosto de 1860 que a Colônia de Brusque iniciou sua história, com o desembarque dos primeiros colonos às margens do Itajaí-Mirim. O rio se tornaria uma testemunha muda do início de uma nova vida para os colonos alemães, assim como, para os outros imigrantes que estavam por vir.Os colonos vieram iludidos. A propaganda na Alemanha não lhes dava a mínima informação das reais condições de seu novo “lar”. Dizia, sim, que eles encontrariam um paraíso subtropical onde todos seriam proprietários de terras. Estavam totalmente despreparados para explorar um lote de terras coberto de floresta e isolado em ampla área despovoada. Esse despreparo dizia respeito a tudo: nada sabiam das técnicas agrícolas adequadas, do equipamento necessário ao desmatamento e plantio, dos tipos de roupas adequadas à região ou mesmo da inexistência de animais domésticos. Na administração da Colônia é que recebiam um machado, uma enxada e um facão ou uma foice.Com muita coragem e determinação, foram transformando o ambiente. “É o burburinho do trabalho humano que enche o silêncio da mata. É o ruído das ferramentas que levantam ranchos para os povoadores. É o grito dos homens na animação do trabalho, a voz das mulheres que se ajudam e discutem os problemas comuns, são o choro e o riso das crianças que invadem o ritmo musical da natureza. A face da terra se transforma – apenas o rio continua a correr, embora as suas águas devessem ser, daí por diante, cortadas mais freqüentemente pelas canoas, pois continuaria a ser, por longo tempo ainda, a única via de comunicação do núcleo que iniciava a sua vida com o resto do mundo, a única estrada aberta pela natureza, para o contato com o centro, representado pela Vila do Santíssimo Sacramento do Itajaí”, escreveu Oswaldo R. Cabral, no livro Brusque – Subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império, nas páginas 8 e 9 (1958).Nos anos seguintes, o ritmo do trabalho não mais cessaria. O horizonte seria alargado com a derrubada das matas. As colinas mostrariam as feridas abertas pelas ferramentas humanas e as plantações pouco a pouco surgiriam.A Vila de Brusque é importante para caracterizar a comunidade camponesa do Vale do Itajaí-Mirim, no fim do século 19. Basicamente era um aglomerado com aparência semi-urbana, inserido na área colonial. Não se assemelhava nem um pouco às aldeias camponesas alemãs do século 19, mas, a exemplo delas, um forte laço de coesão social unia as propriedades individuais num grupo territorial muito bem definido – a Colônia. E, se havia lugares em que os colonos mantinham suas atividades sociais e econômicas com outras pessoas, eram as vendas.Esses estabelecimentos comerciais ocupavam posição de destaque, não tanto pelo volume do comércio, mas pelo fato de serem pontos de reunião para os vizinhos, o local das conversas, da vida social, da venda e troca de mercadorias e da entrega de correspondência.

COLONIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE BRUSQUE


Os índios foram os primeiros habitantes desta terra que um dia passou a se chamar Brusque.
Em uma de suas andanças, Vicente Só passou por estas terras, achou um local agradável e passou a viver sozinho. Escolheu uma colina e fez um ranchinho, mas mais tarde por problemas de saúde resolveu terminar seus dias com sua família numa colônia vizinha. Tempos depois, este rancho deu lugar a uma Igreja Católica.
Foto do Porto de Itajaí

Em 1856, Pedro Werner saiu da Colônia São Pedro de Alcântara decidido a explorar a tal localidade. Chegando aqui construiu um grande engenho de farinha, se instalando com sua família.
Os primeiros colonos chegaram em 24 de Julho de 1860 em Itajaí, chegam a colônia de Itajahy com destino a localidade de Vicente Só. Era um número de 55 pessoas dirigidas pelo Barão Maximiliano Von Schnéeburg. Nesta época Francisco Carlos de Araújo Brusque foi nomeado diretor da nossa colônia e o presidente da província de Santa Catarina.
Seguiam rio acima com destino a Vicente Só, o percurso era todo pelo rio e utilizavam canoas para transportar os colonos, que tinham um caminho difícil pela frente e que chegava a demorar de cinco a seis dias rio acima. Tudo funcionava conforme o tempo, se chovia as dificuldades seriam maiores demorava ainda mais, visto que precisavam aguardar as águas baixarem. Chegando a Vicente Só foram recebidos por Pedro Werner, que os acolheu em seu engenho até que todas as pessoas fossem assentadas. As primeiras ações administrativas foram um levantamento do lugar e a construção de quatro grandes ranchos, além de um armazém de mantimentos.
Pouco a pouco a floresta virgem e as selvas incultas foram cedendo espaço às choupanas, as picadas e as roças foram mudando o cenário. Um dos problemas encontrados pelos imigrantes alemães que chegaram na primeira leva, foi a respeito de demarcação de lotes que não foram demarcados corretamente. Instalando-se próximo do rio, os primeiros que aqui chegaram, ou seja, esses escolheram as melhores terras. Muitos imigrantes tiveram que esperar por suas terras por muitos meses no galpão de alojamento.
Os homens e os filhos mais velhos seguiam em meio a mata virgem, para a construir um casa e começar a derrubar as matas. Enquanto isso as mulheres e crianças permaneciam no alojamento. A casa e os poucos móveis eram todos construídos com troncos das árvores encontrados no terreno. Apesar de não ter ainda engenhos, as casa alemãs eram levantadas sem um só prego.
É importante salientar que os dois primeiros anos dos imigrantes foram de profunda importância, visto que ocorreu a construção das casas, construíram capelas, escolas, casa para administração e outros empreendimentos.
Por volta de 1870, chegou uma outra leva de imigrantes, poloneses que foram destinados a Porto Franco (atual Botuverá), local abandonado por eles posteriormente por falta de ambiente de trabalho favorável a suas habilidades.
Por volta de 1875 um elevado número de imigrantes Italianos, instalou-se nas linhas de Porto Franco, Ribeirão do Ouro, Águas Claras, Limeira e Poço Fundo.
Por volta de 1889, um pequeno número de imigrantes chega a Brusque provindos de Lodz, mas esses traziam uma novidade, não possuíam qualquer habilidade para lavoura, porque suas atuais aptidões provinham de tecelagens. Esses ficaram conhecidos como benfeitores da evolução dessa atual cidade, visto que com a vinda em 1890 trouxeram consigo todo um conhecimento na industrialização. Com esses imigrantes começam a surgir todo movimento rumo à indústria, é quando em 1892 somos privilegiados com a primeira fábrica.
Vale lembrar que até esse período a agricultura representava 90% da economia brusquense e os outros 10% eram representados pelo comércio e pelo trabalho artesanal (ferraria, carpintaria, alfaiates, pedreiros). Estes trabalhos não foram capazes de garantir a industrialização, mas possibilitaram ao comércio desenvolver-se. Em conseqüência, os comerciantes puderam acumular capital e utilizaram-no para lançar as bases da fábrica, tornando-se empresários industriais.
Em 1890 o comerciante João Bauer fez a primeira tentativa de industrialização com a produção de tecidos no município. Contou com a ajuda de imigrantes poloneses, conhecidos como os tecelões de Lodz. Porém essa tentativa não superou as expectativas.
A segunda tentativa logrou êxito. Com o apoio do comerciante Carlos Renaux, os poloneses construíram os primeiros teares de madeira, bastante rústicos, que foram instalados dentro do depósito da casa de comércio: eis os operários pioneiros da indústria têxtil de Brusque, fundada no ano de 1892.
Em 1898 temos o início das atividades da Büettner SA. Seu fundador foi Edgar Von Büettner, também comerciante, se especializou na fabricação de bordados finos e posteriormente em guarnições para camas, colchas, cortinados entre outros que foram vendidos pelo Brasil.
Em 1911 foi constituída a Cia. Industrial Schlösser tendo como fundadores Gustavo Schlösser que trouxe um mostruário de tecedura da Polônia e seus filhos.
O slogan “Berço da Fiação catarinense” foi dado pelo padre Raulino Reitz, devido ao fato da fábrica Renaux implantar em 1900, a primeira indústria de fiação em Santa Catarina.
As crianças começavam a trabalhar com 13 anos. A modernização dá-se com a inauguração da usina elétrica construída na Guabiruba Sul, em 13 de novembro de 1913. Com isso possibilitou-se o trabalho noturno regular.
O trabalho estava dividido em três turnos: 5 da manhã até 13:00, 13:00 até 22:00 e 22:00 até 5 horas da manhã.