sábado, 23 de fevereiro de 2008

CULTURA DO IMIGRANTE ITALIANO

No caso dos italianos deve-se prestar atenção na situação em que se encontravam na Itália e os motivos de sua imigração.
A Itália, antes do século XIX, passava por uma crise que afetava principalmente os camponeses. Numa Itália de frio rigoroso e de um sistema político, social e econômico com traços feudais em decomposição, a fome tornava-se problema grave em algumas regiões.
O trabalho árduo ao sol e a higiene precária colaboravam muitíssimo para dificultar a vida dos camponeses no norte italiano. O uso exclusivo do milho como alimento, quase sempre estragado pela umidade, provocava a pelagra, uma avitaminose decorrente da falta de uma alimentação variada. Além de não receber ajuda do Estado, os camponeses não possuíam terra e enfrentavam terríveis condições climáticas.
A partir de 1875, rumores apontavam ser o Brasil a “terra prometida”, esses fatos são divulgados em jornais da época na Itália. Um lugar mítico de abundância, um lugar prometido, o paraíso na terra e não depois da morte. O mito da “Cocanha” acentuava esses pensamentos. O Brasil seria o lugar onde “uma montanha de queijo ralado se vê sozinha no meio da planície... um rio de leite nasce de uma grota e corre pelo meio do país, suas margens são de ricota...”[1].
Todas essas histórias de fartura colaboraram para que grandes levas de imigrantes começassem a deixar o norte da Itália com destino ao Brasil.
A colonização italiana no médio vale do Itajaí-Mirim é decorrente da política de imigração oficial do Segundo Reinado, posta em prática com maior vigor, após cessarem as questões externas, com término da Guerra do Paraguai. As atenções dos parlamentares brasileiros voltaram-se para o interior do Brasil, preocupando-se com grandes áreas devolutas e como única forma para ocupá-las, a intensificação da política imigratória.
No caso de Brusque e região, os imigrantes que chegavam pelo rio Itajaí-Mirim, se alojavam provisoriamente na Casa do Imigrante, localizada na rua Hercílio Luz. Nesse local, eles tinham alimentação e abrigo gratuitos, e logo após eram encaminhados as sua terras. Eles tiveram de cortar o mato para poder construir as casas, primeiramente feitas de ripa e com telhado de palha.
Os imigrantes plantavam milho, feijão, arroz, batata e aipim. Algumas cartas enviadas a parentes reforçavam o mito da fartura das terras. Essas cartas eram usadas em jornais da época para atrair mais imigrantes ao Brasil.
Pode-se perceber ao analisarmos algumas entrevistas com descendentes de imigrantes italianos, a dificuldade de instalação no local. Como a colonização alemã antecedeu a colonização italiana, as melhores terras para o plantio foram ocupadas pelos alemães. Os italianos ficaram com as áreas mais montanhosas ou seja, impróprias para o plantio de determinados alimentos.
Sem dúvida alguma, como fora citado por um entrevistado, os imigrantes ficaram deslumbrados com a abundância de terras e de madeira. Na Itália (...)“não podiam fazer nada, não podiam nem tirar um pau de lenha para queimar”[2]. Possuir um pedaço de terra para plantar era muito difícil na Itália, e com a crise em que o país se encontrava, os que possuíam terras sentiam a falta de uma ajuda financeira para comprar sementes para plantar. Em uma entrevista feita com o senhor Guilherme Araldi ele comenta as dificuldades que seus antecedentes passavam: “para conseguir um pedaço de terra lá não era fácil. Não era fácil igual aqui.” (...) “Eles diziam [seus avós] que vieram para o Brasil porque aqui eles plantavam um pedacinho de pau, e com as raízes eles faziam o pão”[3].
Os imigrantes falavam o chamado “dialeto italiano”, ou seja, cada região da Itália possuía sua língua que não era oficial da Itália. No Brasil os imigrantes conservaram a tradição por muito tempo, até a proibição do uso das línguas estrangeiras nas colônias de imigrante, este fato ocorreu por volta da eclosão da 2ª guerra mundial.
A paisagem catarinense alterou-se com a presença de casas de madeira, sem varanda, altas com largos porões, onde eram guardadas as carretas. Nos locais onde se produzia vinho, os porões passaram a servir de adega para a conservação de vinho. As casas eram acompanhadas obrigatoriamente de pequenas pastagens, paiol, estábulos, horta, pomar e jardim.
O vestuário manteve-se quase o mesmo da terra de origem. Principalmente no que se refere ao pano de roupa na cabeça das mulheres, o lenço no pescoço dos homens.
Nos dias atuais é difícil ver um descendente de italianos usando roupas com este aspecto. E o que não pode-se esquecer é que o mundo vive em evolução, e nem mesmo os italianos hoje, mantêm essa cultura.
[1] GISBURG, Carlo. O queijo e os vermes. O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo; Companhia das Letras; 1998, p. 165-166.
[2] Entrevista feita com o senhor Rocco Girardi.
[3] Entrevista feita com o senhor Guilherme Araldi.
Trechos do Artigo intitulado "Cultura do Imigrante Italiano" 2003. Thiago Alessandro Spiess.

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